sexta-feira, agosto 12

Da Luz e da Escuridão


Daqui
Abriu os olhos. Acordou e soube.
Acordou e sentiu, viu, ouviu e provou a escuridão... Primeiro veio o caos, depois o pânico e com o sangue a rugir nos ouvidos e a adrenalina a fluir por todo o seu corpo, correu.
Fugia.
Não sabia para onde, nem porquê, mas sabia que tinha que correr para se proteger, para sobreviver. Era uma  corsa assustada que fugia do seu predador, que corria pela vida.
Sentia a escuridão pegajosa em torno das pernas, sentia se suja por ela, invadida.
Correu ainda mais.
Não queira sentir os músculos exaustos, nem os pés feridos. Só sentia o coração em chamas, como um vulcão em erupção, deixando escorrer sobre si a lava quente e mortífera do medo.
Subitamente as suas pernas pararam. O medo cessou e o vulcão acalmou.
Dobrou se sobre si, abraçou o próprio tronco para acalmar a dor lancinante que sentia no peito... que alastrara ate à boca do estômago como fel e que a fazia chorar. Não sabia que estava a chorar. Não sabia que as lágrimas gordas lhe banhavam a cara e o pescoço e não sabia porque não parava aquela dor.
Aquela dor... que lhe dilatara os pulmões e o coração dorido, e os esmagava contra uma gaiola de costelas, pequena demais para aquela dor.
Desesperada por oxigénio, sorvia o ar, por entre os soluços, como se tivesse escapado a um mar em fúria, onde quase se tinha afogado. A garganta seca e em chamas obrigou a engolir o sabor salgado das lágrimas que ainda não tinham cessado. Largou finalmente o tronco, que parecia mais firme depois dos pulmões estarem saciados de oxigénio.
Com a visão desfocada pelas lágrimas e a boca seca, levantou os olhos vítreos que por instinto descobriram o brilho subtil de uma lua cheia longínqua. Ela erguia-se. No meio da escuridão, entrecortada pelas sombras da noite.  Erguia-se brilhante, luminosa e cheia, para iluminar a escuridão, e o caminho de quem a percorria.Trouxe-lhe paz, descernimento e luz, como uma mãe que aconchega o seu bébe depois de um pesadelo.
Mais tarde…
Mais tarde viria o crepúsculo. A única altura em que Eles se vêem.
Mais tarde viria o sol.


Nenhum comentário:

Postar um comentário