domingo, fevereiro 27

Memories


Sempre me disseram que “recordar é viver” e eu nunca acreditei muito nessa treta. Sou muito pouco nostálgica, tanto porque tenho uma espécie de memória selectiva (a que carinhosamente apelido de “Memória de peixe”) como porque sempre assumi o passado exactamente como isso: Passado.
No entanto, esta tarde dei comigo a recordar a minha maravilhosa infância!
Sentada na minha varanda, com o vento a despentear me e com o sol a aquecer me os pés dentro dos felpudos chinelos azuis, lembrei me de quando era pequena, com 5 ou 6 anos, e ia com os meus amigos “nadar” para a cascata, de quando fazíamos “casinhas” no pinhal, de quando fazíamos bolinhos de lama, de quando passávamos as tardes todos juntos, a jogar futebol na rua, a beber sunquick e a correr como desalmados. Lembro me de quando chegava da escola e a avó já tinha o café com leite e o pão com manteiga pronto e de como aquele simples lanche me sabia como se fosse a melhor guloseima do mundo.
Até aos 6 anos fui filha única, o meu primo é um ano mais novo que eu, era o meu grande companheiro de brincadeiras. Fomos criados como irmãos e apesar de andarmos permanentemente na picardia, éramos inseparáveis. Lembro me de quando estávamos na cozinha da avó, naquelas tardes de chuva, em que não devíamos sair, mas assim que a chuva aliviava um bocadinho, calçávamos as galochas e lá íamos nós brincar nas poças de água. Quando a nossa avó dava por ela, já estávamos completamente ensopados e sujos de lama.
Lembro me de chegar da escola, fazer os trabalhos de casa com o maior afinco possível (era uma marrona confesso). Lembro me de no 1º ano ter feito birra todos os dias na primeira semana de aulas. E lembro me de depois do meu pai me ter dado uma sapatada em frente à professora, não houve mais birra. Lembro me de no 3º ano da primária estar com varicela, estar a delirar de febre, ter altos na cabeça e mesmo assim querer ir para a escola.
Lembro-me de o meu primo estar a desenhar e para ilustrar ainda melhor o desenho, fazia os sons do que estava a desenhar. E lembro me daquilo me irritar solenemente. Imagine-se a seguinte cena - Eu muito descansada da minha vida a desenhar casinhas e florzinhas e coisas de menina, enquanto ele desenhava um navio com piratas a lutar com o Peter Pan e dizia:
 “ fsssssss… Smith, vem ai o Peter Pan! Preparem se homens… Tchim, Ptchiiiim, Patchiim, PUUUUM! Pumba… Ptchiiim, Tchim”

Quando acordei do transe, com um sorriso bem rasgado na cara, percebi que realmente recordar não é viver...mas ajuda a viver melhor!

quarta-feira, fevereiro 23

Tenho para mim II


... Que a minha geração, para além de estar à rasca, é também Rasca.
Até agora não disse novidade nenhuma, já sei, está-se a tornar hábito. Mas digo isto por motivos completamente diferentes dos já apregoados pelos sociólogos, políticos, psicólogos e stuff! Digo isto, porque a minha geração anda sempre à rasca com tudo... Doí nos tudo.
Ou é da cabecinha ("ai meu Deus que estou com uma depressão que nem posso").
Ou é do pezinho ( "Panão do Zé Manel que me fez um carrinho no jogo de ontem! Vou ficar com uma perna mais curta que a outra e já posso meter os papeis para a invalidez").
Ou é das costinhas ("Desgraçadinho do meu filhinho que andou desde os 6 anos com 10 kg de livros às costas e agora está no Desemprego!").
Ou é dos dentinhos.
E esta dos dentinhos então, virou moda. Não é que a canalha agora anda toda de aparelho nos dentes?!
E às vezes nem precisam. É só mesmo para andarem lá com o corta palha cheio de cores.
O meu dentista (muito jeitosinho por sinal)*, contou me a seguinte conversa com a progenitora de uma dessas "Fashion Victims". (Chamemos lhe CÁTIA VANESSA para proteger a identidade da menina)

Mãe - Sabe sr. Dr... eu acho que a minha Cátia Vanessa precisa de um aparelho pós dentes!
Dentista Jeitosinho -Não precisa não Mãe. Ela já tem uns dentes tão bonitos. Não há necessidade de estragar uma boca tão bonita, por um dentito rodado.
Mãe - Mas esse dente estraga tudo... e todas as amigas dela têm! E a Cátia Banesssaaaaa não... a Minha filha não pode andar sem aparelho. Ainda me começam a gozar com a miúda.
Dentista Jeitosinho - Eu percebo, mas eu não vou colocar aparelho nos dentes da Cátia.  Não, porque não se justifica.
Mãe - Mas a Cátia precisa Doutor... e se as amigas têm, a minha filha também vai ter.

Pois a verdade é que a "Cátia Vanessa" colocou o aparelho (noutro dentista que não o Gostosão) e no mês seguinte a Progenitora teve a lata de ir ao consultório do Jeitosinho mostrar o trabalho que a concorrência tinha feito e proclamar a felicidade da Filhinha que, mesmo não tendo necessidade de colocar o "cenas" na cramalheira, atrofiou a boca toda porque as amigas tinham aparelho e ela não, e porque é Moda ter um dente de cada cor.

Vai-se a ver e isto é tudo inveja.





* Por Jeitosinho/Gostosão entenda-se: 
28 anos, moreno, alto, cheiroso, barba de 3 ou 4 dias, cabelo à McDreamy, fofo como só ele sabe e pode. 
Maaaas............. Casado e Pai de filhos.

segunda-feira, fevereiro 21

Mézinhas

Tenho vinte mil e quinhentas ideias dentro desta cabecinha... Mas não tenho vontade de escrever!
Com' assim : Vou me ficar pelo chazinho de Maçã e Canela e pela sessão de Grey's Anatomy e amanha logo se vê.

Como diz a Avó: "Chá e Beijinhos curam tudo!"

domingo, fevereiro 13

Almas

Existem várias formas de existência. Existem várias formas de vida.
Mas acima de tudo, existem apenas duas coisas essenciais para uma vida: a alma e o coração.
Aprendemos desde cedo que o coração é sinónimo de vida. É ele que carrega aos ombros a função mais primária de todas. É a sua voz que nos diz que (ainda) vivemos. No entanto teimamos em defini-lo como o portador das nossas emoções, dos nossos sentimentos. E o pobre coração, que já arca com a difícil tarefa de nos manter vivos, gentilmente se responsabiliza pelos nossos desgostos e pelas nossas alegrias.
Por outro lado, nenhum corpo existe sem alma. Sem essência.
A alma é o abstracto de um corpo. Pode definir a sua personalidade, a sua forma de sentir e de tocar o mundo. Pode ate ser considerada a parte mais idílica dos seres. Ou então a maior mentira.
A alma completa a função do coração. E o coração justifica a existência da alma. Não existem um sem o outro, e ainda assim são opostos.
Se por um lado o coração é palpável, a alma é imaterial.
A alma é transparente e o coração é vermelho.
O coração é mortal e a alma é eterna.
O mundo é feito de metades. É feito de opostos. O Mundo é assim. E isso nunca vai mudar

quarta-feira, fevereiro 9

Espelhos





Levantou a cabeça. Limpou o espelho embaciado pelo vapor do banho e viu.
O rosto magro, os olhos escuros emoldurados por fundas e escuras olheiras. Horas sem dormir, dias a fio. Passou a mão pela cara, como se se visse pela primeira vez. A barba por fazer arranhou lhe a ponta dos dedos, e trouxe-o de volta à realidade.
Detestou o que viu. Odiava se por isso.
 Sentiu uma dor lancinante na mão direita, baixou os olhos e viu que sangrava. Não tentou estancar o sangue. Sentia se quase aliviado pela dor que por momentos conseguia abafar a que sentia no peito. Não sabia de onde vinha aquele sangue, nem sabia ao certo de onde vinha a dor.
Passou por cima dos cacos do espelho partido e viu o seu reflexo um milhão de vezes, a sua imagem em estilhaços de dor…
Avançou num passo lento ate ao sofá. Nu, molhado, gelado, com a mão tão cheia de dor como o peito. A dor física era quase reconfortante. Dava lhe um lampejo de esperança. Dava lhe a força para querer sair do transe.
Sentia se vazio. Como um saco de plástico no meio de um tornado.
Não queria morrer… Não ia morrer.
Ainda tinha muito para fazer.


“We live. We die. And the wheels on the bus go round and round” - The Bucket List