segunda-feira, janeiro 31

Há coisas que me ultrapassam...

Eu tenho um sério problema com datas festivas.
Se por um lado adoro o Natal, detesto o Carnaval, amo de paixão o São João e tenho uma relação de amor-ódio com o dia de Reis; por outro lado, detesto com todas as minhas forças o Dia de São Valentim aka, Dia dos namorados!!!
Mas é que detesto mesmo... Aquele coisa de oferecer coraçoesinhos e paneleirices em vermelho/cor de rosa e cheias de coelhinhos e gatinhos e ratinhos MATA-ME.
 É todos os anos assim... chega o fim de Janeiro, e enchem-se as lojas de bonecada dentro dos parâmetros acima indicados, a preços ridículos, com os "dizeres" mais lamechas do mundo e arredores.
Se calhar sou eu que sou pouco romântica. 
Mas eu acredito no amor. Acredito sim senhor e várias vezes ao dia. Não acredito é naquele amor em que se tem como obrigação estar com o xuxu aos beijinhos e abraços no restaurante (como o resto da manada), oferecer-lhe uma conice sem significado nenhum e para finalizar a noite ir "ver as estrelas" no Motel mais caro da cidade!!!



Prefiro um parzinho de Melissas novas :D

terça-feira, janeiro 25

Agridoce


Deixou-se cair de costas na cama. Estava farta daquela casa vazia. Virou-se de barriga para baixo, fechou os olhos. A primeira coisa que lhe ocorreu foi ficar ali deitada o resto do dia, da noite, da semana. Levantou-se de repente, essa inércia assustava-a mais da qualquer outra coisa no mundo.
Pegou no casaco. Preto. Desceu as escadas num passo lento, olhou as paredes vazias, nuas, sem as memórias do que restava do passado dela.
Abriu a porta e não se deu ao trabalho de a trancar depois de sair. A casa estava vazia, assim como o seu coração.
Não abriu o guarda-chuva. A chuva fina caía em cortinas prateadas, enquanto ela caminhava sem destino. Não conseguia sentir o frio, nem qualquer outra sensação… Não ouvia mais nada a não ser o som dos próprios passos. E continuou a andar. Passou pelo parque infantil. Vazio. A chuva tornava-o tristonho. Olhou o baloiço que oscilava ligeiramente nos gonzos, empurrado pelo vento e pela chuva de Inverno. Era exactamente assim que se sentia… presa a alguém que não queria, e que também não a queria a ela. Empurrada pelas mais fortes razões, que nem ela sabia ao certo quais eram.
Não havia um único dia, principalmente nos últimos 3 anos, em que não se perguntasse o porquê de estar com uma pessoa que não a fazia feliz. O porquê de estar com alguém por obrigação.
Sentia-se enclausurada na própria casa, na própria vida.
Ela tinha abdicado de tudo por ele. Tinha mudado a sua vida, tinha mudado a sua forma de ser, tinha-se moldado à vida que ele criara para eles. Tinha sido a “Grande Mulher, por trás do Grande Homem”. Tinha sido a esposa e dona de casa perfeitas.
Mas não era ele que ela queria. Ela queria o Outro.
O que nunca tinha desistido. O que dava a vida por ela. Aquele com quem tinha feito planos de vida para os dois, que sabia qual era a sua música preferida, que sabia que ela detestava brócolos e que sabia que ela o iria deixar.
Aquele que chorara quando ela partira, aquele que lhe telefonara depois do seu primeiro aborto, aquele que estivera do seu lado depois do segundo, e depois do terceiro.
Ainda assim, ela tivera medo de ser feliz. Ele pediu-lhe para fugir com ele. Ela disse que não se podiam ver mais. E o tempo passou.
Agora?
Agora não lhe restava nada a não ser aquele sabor agridoce na boca.
 - Posso fazer alguma coisa por si? Parece um pouco perdida.
Desviou os olhos do baloiço. Ouviu, viu e sentiu. O mundo parou e ela soube…
Não interessava se aquela era a sua cidade, se aquele era o seu lugar, porque o Outro… O Outro homem, era o Seu homem.

quarta-feira, janeiro 12

Quem anda à chuva... Molha-se!!!


"...a tradição dos vestidos de noiva brancos, na altura não havia electrodomésticos doutra cor. E o noivo, casa de escuro porque já que se está a enterrar convém ir vestido a rigor." – Nilton

Respirei fundo um milhão de vezes depois de ler este… Magnifico, chamemos-lhe assim, parágrafo.
Eu não sou feminista, não sou uma defensora extrema das mulheres, e sinceramente até sou muito contra quem o é.
Não existe um sexo forte e um sexo fraco. Não existe tal coisa. Mas que ninguém tenha a brilhante ideia de me dizer: “Oh Vihzinha, o Nilton é um humorista… Isto é uma piada!”. UMA PIADAAAA?
É graças ao facto de se considerar humor uma mulher ser comparada a um electrodoméstico que muitas das mulheres dos nossos dias se estão a tornar nos “novos homens”. Estamos a ficar frias, ocas, obcecadas pelo poder e por mostrar ao mundo que somos tão boas ou melhores que os homens. Não somos nada disso… Somos iguais. Exactamente iguais. Temos as mesmas capacidades físicas e intelectuais que eles, podemos é não ter o mesmo tipo de oportunidades, nem o mesmo tipo de “julgamento” que eles. Mas isso já são outras águas e não me apetece escrever sobre isso.

Tenho a lembrar que cada vez que um orgulhoso “portador de um pénis” pensar que é mais do que uma mulher, deve também lembrar-se de que se não fosse uma mulher a querer que ele existisse ele ainda andava no “cu do gato”.

terça-feira, janeiro 11

Lua Cheia


Fechou a porta da rua, pousou a carteira e começou a despir-se mesmo ali, no hall de entrada.
Tinha apanhado a chuvada da vida dela, o cabelo estava completamente encharcado, a roupa pingava, e para piorar ainda mais a situação, tinha o estômago colado às costas.
Descalçou as botas, tirou as calças de ganga, as meias e a camisola de malha vermelha. Correu para a cozinha em roupa interior. Abriu o armário dos cereais, pegou numa caixa de muesli e verteu-os para dentro de uma tigela. Podia sobreviver sem reclamar a muita coisa, desde o maior temporal da história, ao patrão mais chato do mundo, ou à mãe mais impertinente de todas (que era sua, por sinal). Mas de estômago vazio nada funcionava e quando a fome apertava o seu mau génio aflorava em força.
Meteu à boca uma colherada de muesli, que engoliu quase sem mastigar e dirigiu-se para a casa de banho. Pôs a água a correr para dentro da banheira, e sentou-se em cima do tampo da sanita a comer os cereais.
Pousou a tigela vazia no tampo do lavatório e entrou para dentro da banheira. Tapou o nariz e emergiu a cabeça, voltou à tona da água, respirou fundo e puxou o cabelo para trás. Aos poucos sentiu os músculos a relaxarem. Lavou o cabelo, colocou-lhe a máscara hidratante e enquanto esperava que esta fosse absorvida, pegou no puff e no gel de banho de mirtilos e passou-o pelo corpo. Não estava com muita paciência para cozinhar, provavelmente encomendaria uma pizza mais para o fim da noite. Ainda tinha umas coisas para fazer, devia ligar à mãe a perguntar pelo avô, mas como os discurso era sempre o mesmo, e interminável, ia optar por ligar à irmã.  
Tirou o que restava da máscara do cabelo, abriu o ralo da água e ouviu o telemóvel a tocar.   Vestiu o roupão, enrolou uma toalha mais pequena na cabeça, e assim que chegou ao hall de entrada o telemóvel parou de tocar. Devia ser ele.
Lançou-se na difícil procura do telemóvel dentro da mala. Encontrou-o. Dirigiu-se para a sala, sentou-se no sofá e ligou a aparelhagem. Ao som de “Wicked Game” remarcou o número da última chamada e esperou pela voz dele.
Disse o nome dela. Como se fosse um dado adquirido. Como se fizesse parte da sua identidade. Ela sorriu e percebeu o cansaço na voz dele. Disse que tinha saudades, que já não comiam pizza juntos à imenso tempo. E que tinha saudades dele (outra vez).
Ele disse que ia conduzir a noite toda, que estava exausto, que precisava dela e que a amava. Que lá para as cinco da manha estava em casa, que precisava das bolachas dela, que precisava de sentir o cheiro dela e de fazer amor com ela. Ela deu uma gargalhada.


São quase 5 da manha.

terça-feira, janeiro 4

Marés

As lágrimas queimavam-lhe os olhos como ácido. Engoliu um soluço amargo e tentou sorrir - nem quando estava sozinha podia permitir-se a ser fraca.
Rodou a chave na ignição do carro, fez inversão de marcha e deixou que o carro a conduzisse. Só precisava de cinco minutos para acalmar aquele nó na garganta. A outra dor, a mais profunda, essa sabia que não ia desaparecer tão cedo.
Sempre soubera disfarçar o que sentia e de todas as vezes que queria chorar, simplesmente optava por sorrir! Era tão Portuguesa caralho...
Quem é que ri quando está triste, e chora quando está feliz?!
Queria ligar-lhe, mas o que é que ia adiantar?! Nada... isso já ela sabia. Ia preocupa-lo, ia deixa-lo nervoso, ia ter que lhe mentir e atenuar os piores pontos da situação. Como era possível que conseguisse mentir-lhe caramba? Ele ia saber de qualquer maneira.
Lembrou-se da primeira vez que o viu, lembrou-se da primeira vez que ele disse que a amava e lembrou-se que se ele a visse assim diria : "Estás um caco Rapariga". Com aquele veludo na voz que só ele tem. Com os olhos brilhantes, desejosos de a abraçar. E ela iria fugir da ternura dele... afinal de contas, tinha-o feito desde sempre!
Parou o carro no cimo do penhasco, aconchegou o cachecol cor de avelã ao pescoço e abriu a porta. O vento acariciou-lhe o rosto, como um velho amigo e cheiro salgado da maresia inundou-lhe imediatamente o cérebro...com ele vieram mais recordações.
Olhou o horizonte, onde se começavam a formar algumas nuvens, de aparência fofa e cremosa, mas que em breve se transformarião numa tempestade.
A maré estava a descer e o som das ondas era a única coisa que precisava de ouvir. Não queria as vozes empastadas de dor, nem os olhares doridos. Queria o som, o poder da água que ora docemente, ora duramente desfaz a terra. Queria o som, o sussurro da areia, que arrastada pelo mar, suspiram juntos como se fizessem amor.
Desceu as trémulas escadas de madeira, sentando-se na última. Descalçou os ténis, tirou as meias de algodão e enfiou os pés nus na areia. Suspirou, olhou o mar, e prendeu a respiração... As lágrimas voltaram e ela nem se apercebera. Colocou os braços em torno das costelas, para não se desmoronar.Olhou em redor e lembrou-se de todas as vezes que tinha brincado naquela praia, de todas as vezes que tinha esperado por Ele naquele mesmo local, de todas as conversas que tinham tido, de todas as vezes que ela Lhe pediu para a levar... e em vez disso Ele levou-a. A  ela... Àquela que amava mais do que a si mesma... um quarto de si, estava morto.

segunda-feira, janeiro 3

A estrela...

Olhou-se ao espelho do toucador.
Sempre soube que era bonita e nunca havia precisado de um homem para ter a certeza disso.
Sabia-o porque tinha olhos na cara e porque apesar dos milagres que um bisturi pode fazer, nunca havia necessitado de mais do que um "liftingzito" ou uma "lipo" aqui ou ali.
Sabia que não era a típica beleza televisiva... Sabia que não era de nenhuma daquelas famílias, pseudo aristocratas, com apelidos manhosos, cheios de "S's" e de "H's"...
Algumas revistas até já a haviam apelidado de "Saloia".
Mas o que é que essa gente sabia sobre ela??
Não sabiam nada... Absolutamente nada.
Nasceram num apartamentozinho na "zona chic" de Lisboa, vestiam roupinhas vindas de Paris ou de Milão, que o Papá (infiel)  trazia das suas loooongas viagens, para comprar o afecto dos meninos, e as desculpas da Mamã.
Comiam amostras de comida  em Restaurantes caros, onde não podiam por os cotovelos em cima da mesa, nem falar com os adultos.
Frequentavam colégios caros, que os papas, inchados, cornudos e orgulhosos pagavam.
Sim, era realmente um Saloia... mas uma saloia feliz!