quarta-feira, fevereiro 9

Espelhos





Levantou a cabeça. Limpou o espelho embaciado pelo vapor do banho e viu.
O rosto magro, os olhos escuros emoldurados por fundas e escuras olheiras. Horas sem dormir, dias a fio. Passou a mão pela cara, como se se visse pela primeira vez. A barba por fazer arranhou lhe a ponta dos dedos, e trouxe-o de volta à realidade.
Detestou o que viu. Odiava se por isso.
 Sentiu uma dor lancinante na mão direita, baixou os olhos e viu que sangrava. Não tentou estancar o sangue. Sentia se quase aliviado pela dor que por momentos conseguia abafar a que sentia no peito. Não sabia de onde vinha aquele sangue, nem sabia ao certo de onde vinha a dor.
Passou por cima dos cacos do espelho partido e viu o seu reflexo um milhão de vezes, a sua imagem em estilhaços de dor…
Avançou num passo lento ate ao sofá. Nu, molhado, gelado, com a mão tão cheia de dor como o peito. A dor física era quase reconfortante. Dava lhe um lampejo de esperança. Dava lhe a força para querer sair do transe.
Sentia se vazio. Como um saco de plástico no meio de um tornado.
Não queria morrer… Não ia morrer.
Ainda tinha muito para fazer.


“We live. We die. And the wheels on the bus go round and round” - The Bucket List

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